Foi um embate de olhares, bruto e surdo,
Que lançou uma teia
E enjaulou a dança do tempo atando-a!
Pulsos e tornozelos…
Impedindo-os de se precipitarem num abismo sem fundo…
De desejos nunca antes pronunciados
E calados na secura de gargantas com nós…
Não fosse o eco das suas vozes quebrar a fina camada de luz que os separava…
A imagem dela reflectia-se no fundo dumas pupilas contornadas de verde esmeralda translúcido
E atravessavam-na de um lado a outro sem pedir licença para passar.
Lutavam quietos na esperança que um sopro rasgasse a calma fúria que lhes corria nas veias,
Envoltos apenas em fragmentos desfeitos e sem cor
De imagens com que não tinham sonhado,
E assim ficaram por outras três horas.
E depois esgotou-se a força que os segurava.
Soltaram-se as amarras e os sentimentos antes camuflados,
Como um barco de velas colhendo ventos e sugando ares.
E esqueceram-se do resto…
Despidos de filtros e sem rodeios…
Acordei para um sonho…
Eu tentei negar…
Juro que tentei…
Mas a luz do teu sorriso
Vagueou sobre as minhas sombras...
E arrastou-as para longe…
Aos poucos… Em sopros demorados…
Entreguei-me ao ritmo pulsante
De um rio agitado
Encontrando no fim do seu leito
Um mar despido de ventos e tempestades
Envolto no tom calmo
Do azul dos teus olhos
Respirei cada gota de chuva
Dançada numa praia
De versos escritos em areia molhada
Onde dois sorrisos rasgados
Ditavam um destino inesperado
Não era isto que tinha imaginado…
Apesar de ecos e vozes me sussurrarem
Entre nós que ainda me amarravam
Que um dia assim seria…
Tentei negar…
Mas depois percebi…
Acordei para um sonho…
Quando cheguei apenas o vazio
Nem o eco da tua voz
Nem o cheiro
Nem as sombras de nós
O som dos teus passos
Ainda se respirava no ar
O gesto dos teus olhos
Onde me queria aninhar
Fugiste daqui
E eu fiquei imóvel
Deitada no chão
Contei os nós da madeira
Do soalho que pisámos
E num sonho dei-te a mão
Escondi-me de mim
Por entre folhas soltas
E notas de música
Com letras revoltas
Rasguei-me da roupa
Que me prendia e sufocava
Dei um grito mudo
No silêncio que me inundava
Fugiste daqui
E eu fiquei imóvel
Deitada no chão
Contei os nós da madeira
Do soalho que pisámos
E num sonho dei-te a mão
Não sei se te quero
Muito, pouco ou nada
Por vezes desespero
Sinto-me amarrada
Presa ao que não tenho
Livre no que posso ser
Fecho o rosto num acanho
Calo a voz para me esconder
Não sei quem quero ser
Se adormeça despida de ti
Se me deva nos teus braços envolver
Se cante o teu nome que não esqueci
Não sei quem quero ser
A musa de quem te escondes
A deusa que te quer ter
Se atravesse tantas e tantas pontes
Para depois te perder
Segues em frente…
Nunca hesitas no teu caminho
E quando a tua pele perde o quente
Vens aquecer-te no meu carinho
E eu continuo aqui
Sem saber quem quero ser
E perco tempo a olhar para ti
E o dia está a amanhecer
Não sei quem quero ser
Se adormeça despida de ti
Se me deva nos teus braços envolver
Se cante o teu nome que não esqueci
Não sei quem quero ser
A musa de quem te escondes
A deusa que te quer ter
Se atravesse tantas e tantas pontes
Para depois te perder
Por tudo o que foi dito
Por tudo o que ficou no silêncio dos nossos lábios
Por todo o amor que te dei e recebi
Por toda a paixão que nos envolveu e devorou
Por tudo o que fica por fazer
Por cada passo que falta dar
Por toda a dedicação com que me entreguei
Por todos os momentos de carinho que partilhámos
Por todas as promessas por cumprir
Pelo orgulho que te cala os sentidos
Pelo egoísmo que te faz fingir que não sentes
Por cada sorriso que te arranquei
Por cada vez que ri e chorei contigo
Por cada vez que demos as mãos
Por cada raio de sol que acordou connosco
Por cada estrela que nos viu adormecer
Pela inocência que me fez acreditar
Pela inocência que te fez prometer
Pelo disfarce que te faz forte
Pela fraqueza escondida debaixo da tua firmeza
Pelo abraço que se sentiu sem se dar
Pelo beijo esperançado de um ‘até já’
Pelos poemas que te escrevi
Pelas músicas que nos ligaram
Pelo desejo…
Pela coragem…
Pela falta dela…
Por um caminho que fica por descobrir…
Por tudo… obrigada!
Vou tendo assim
Pedaços soltos de ti
Que tento unir cada vez que te vejo
Que tento sentir cada vez que te beijo
Assim te vou respirando
Aos poucos… assim… devagar…
Sem saber como será o próximo segundo
Sem saber se te mudas para o meu mundo
Não te prendo nem te amarro
Quero que corras até te cansares
Nem sempre sei o que sonhas acordado
Nem sempre ilumino o lugar ao teu lado
Peço à lua que me conte tudo
O que lhe segredas com o teu olhar
Diz-me que se encandeia com o meu reflexo
Diz-me que é tudo demasiado complexo
E eu pergunto-me… muitas vezes…
Qual o desfecho que nós vamos ter…
Por mais que me esforce nada consigo ver
Por mais que me esforce não te consigo ter…
Esta noite…
Por entre traços do teu cheiro
Que enchem cada poro
De uma pele manchada com o selo do teu beijo
Por entre gemidos…
Que ainda ecoam em mim
E me chamam e prendem
E me arrastam e colam a ti
Depois de te amar
Depois de te tocar com os olhos
Beber cada gesto do teu rosto
Olhar-te com as pontas dos meus dedos
Depois de me roubares para ti
Numa vontade incontornável
De ficares e não partires
Ou de me levares na tua sombra
No meio dum espaço sem tempo
Onde o ar é mais denso
E os sonhos nos confundem
Entre imagens a cores e preto e branco
Tacteei os lençóis… devagar…
Até onde o calor me chamava
Esperei tocar-te e sentir-te
E escaldar-me no teu corpo
Não abri os olhos…
Com medo de não te ver…
Mas sabia que estavas ali…
Enroscado nas teias do meu desejo…
E voltei a adormecer no teu colo
No embalo do ritmo do teu peito
No afago dos teus braços
Mesmo antes de acordar…
Quando as luzes desta rua se apagarem
E o sol também deixar de sorrir
Vou correr atrás do teu brilho
Como um tesouro… para me cobrir…
E se dele saltarem faíscas
Pedaços de fogo ou ilusão
Vou esconde-las bem lá no fundo
E forrar assim o meu coração
Debaixo de um céu púrpura
Nesta noite de névoa vestida
Encharco-me na chuva dos meus olhos
Que me deixa de alma despida
Caminho sobre fagulhas crepitantes
Que o vento apaga devagar
Caminho… não tenho medo
Vou em frente sem hesitar
E assim de alma renascida
Espírito desperto e coração atento
Vejo-te sem te olhar, sinto-te sem te tocar…
É feito de magia o meu pensamento…
Este Natal é meu desejo
Que te vistas de amor para mim
Que te possa encher de beijos
Que pintes a minha vida de carmim
Quero abraçar-te
Com estas asas do tom da tua pele
Olhar-te por dentro e por fora
Acariciar-te com dedos feitos de mel
Quero dizer-te ao ouvido
‘Vem, voa comigo e não me deixes mais…’
Sonho com a tua mão na minha
Atravessando dias dourados e vendavais
Pega-me ao colo e vamos dançar
Ao som da paixão que nos devora
Prende-me nos teus braços quentes
Derrete-me de prazer agora
E quando o sol da vida se puser
Mergulhando no mar num suspiro
Tudo afinal valeu a pena
Escrevemos com caneta de luz no nosso papiro…
De novo acordei do sonho
E tu estavas lá…
Lembras-te?
Prometias-me um mundo
Solto de falsidade
Enrolado em dedos longos
De carícias sem ambições
Não te lembras?
Olhei-te e perguntei-te:
‘És real?’
Mas nem tu sabias a resposta…
Apenas me devoraste nos teus braços
Beijaste-me a testa…
E eu adormeci dentro do sonho…
E sonhei que estava a sonhar…
Lembras-te de me acordares?
Sussurraste-me num eco distante
E quando abri os olhos
Já nem a tua sombra vi…
Tinhas outro sonho
Do lado de lá do véu
Que nos servia de escudo
Apesar de ser feito apenas de sonhos…