Na perfeição se entrelaçam
Dois braços que se estendem
Ao encontro de outros dois
No espaço que sobra
Entre as duas almas que enlaça
Só o silêncio
Encontra caminho para passar
Os corações dançam
Ao compasso de um mesmo ritmo
Que desprende emoções
Segredadas em cada suspiro
Os olhos fecham-se
E vagueia-se para longe
Para lá das estrelas
Salpicadas de desejos
Guardados como tesouros
As mãos seguram sonhos
Que não deixam que se evaporem
Como as lágrimas
Que apenas deixam no rosto
A marca branca do sal
Por despir a saudade
Afogar a ausência e a distância
A pele veste-se de arrepios
Que nenhum sol aquece
E neste abraço
De onde a luz se escoa
Por buracos rasgados
Na cortina da noite
Somos nós... apenas um só...
Era quase meia-noite
E sentada no chão do meu quarto
Espreitava pela janela
E deixava os meus olhos vaguearem
Percorrendo a cidade prateada de luar
Entrelacei a minha mão na tua
E num sopro de vento com cheiro a mar
Deixámos que as nossas sombras
Se misturassem e vibrassem
Ao ritmo tímido de cada suspiro
Chamaste-me e fui
Não olhei para trás
Para o labirinto de laços
Feitos e desfeitos
Trocámos olhares de fogo
Soltámos loucura acanhada
Segredámos pensamentos
E em silêncio relatámos desejos
No fumo do meu cigarro
A tua silhueta desfez-se
Em espirais perfeitas
E caí num sono profundo
Ao sabor suave e quente
Do toque dos teus lábios sedentos
Dos arrepios irrequietos da minha pele na tua
Perdida na escuridão das ruas
Numa noite em que os pés doíam
Por caminhar em círculos
Descalça sobre pedras frias
Resolvi mudar de direcção
E segui...
Por onde o rasto do meu cheiro
Era desconhecido
E a sombra da minha essência
Não se fundia noutras
Andei muito...
Sem noção de espaço
Nem de tempo
Apenas desiludida
Já nem sequer magoada
Muros altos cercavam-me
E nada via
Nada sentia...
E pensei que afinal
Todos os caminhos eram iguais...
Do nada, um pequeno feixe de luz
Que passava pela brecha
De uma porta encostada
Deixou-me ver os meus pés
Já feridos e sem forças
Abri-a devagar... a medo...
E a porta rangeu
'Poucos abrem novas portas'
Pensei...
Espreitei e entrei
E os meus poros sentiram o arrepio
De um banho de mágicas emoções
Que me fizeram sorrir de dentro para fora
E voltar a sonhar...
Apareceu...
Numa noite escura e fria
Sem estrelas
Sem luar
Apareceu sem eu esperar
Nem fez barulho ao passar
Mas iluminou tudo em redor
De mãos abertas
Calor no coração
Voz doce como o mel
E uma mala cheia de sonhos
De várias cores
E eu... já sem sonhos
Virei costas e segui
Mas a alma de luz quente
Veio presa à minha sombra
E disse-me que sonhar era viver
Que desistir era perder...
Abracei-a...
E fiquei a sentir o seu calor
Até amanhecer...
Sei que sou louca
Todos mo dizem
Mas nem precisavam
Sofro de loucura crónica
E não procuro tratamento
Sou louca…
Mas não sou só eu
A lei da atracção
Dá-me apenas amigos
Com igual grau de loucura
E é essa loucura saudável
Que me faz continuar a rir
E que me permite chorar
Lágrimas de loucura
Ao colo de outros loucos
É essa loucura
Que me faz abraçar quem eu gosto
Que me faz fazer amigos
Donde não seria suposto fazer
Amigos muito especiais
Que passam a ser peças essenciais
Na roldana da minha vida
Vida louca…
Já agora…
Também és louco?
Se não fores…
Uma dose de loucura se faz favor!