Grito palavras ao vento
Sem noção da força com que as lanço
Mas numa mudança inesperada
De correntes que se cruzam
E atravessam no ar que respiro
Recebo-as de volta
Intensas demais
Derrubam-me no chão
E deixam-me sem força
Quase me sufocam
Só quero viver…
Só quero ser feliz…
Só quero amar sem barreiras…
Quero ser livre
Quero poder deixar transbordar
Tudo o que o meu coração me diz e sente
A cada vez que se enche e esvazia
Não quero amarrar nada dentro de mim
Não quero encher-me de nós
Que não me deixam ser eu própria
Eu sou assim!
Vivo tudo com intensidade máxima
Dou tudo de mim
Entrego-me
Como se não houvesse amanhã…
Vida é isso mesmo…
É vida…
E às vezes estamos nela mas deixamo-la passar
Assistindo apenas ao seu desfile
Sentados… na primeira fila… mas sentados…
Eu não quero ser espectadora da minha vida
Eu quero estar no palco
E quero estar no palco contigo…
O meu olhar chocou com o teu
Foi um embate forte
Que causou estragos graves
E agitou o meu mundo
A dança do tempo parou
Apenas por breves instantes
E parou também a minha respiração
Que já não inspirava o ar
Que de repente se tornou denso
As vozes em redor ficaram mudas
E os passos silenciosos
Para não quebrarem a fina camada
De luz que nos uniu nesse breve segundo
Consegui apenas ver a minha imagem
Que se reflectia naquele ponto preto
E que me atravessava de um lado a outro
Sem pedir licença para passar
Tudo o resto estava distorcido
Tudo o resto eram apenas fragmentos
Desfeitos e sem cor
De imagens com que não tinha sonhado
Fiquei presa nesse teu olhar
Como se uma teia me tivesse envolvido
Como se uma névoa tivesse descido sobre mim
E não me deixasse ver mais nada
Foi apenas um segundo
Que vai durar o tempo duma vida
Pelo menos enquanto os meus sentidos
Não forem desgastados
Enquanto eu conseguir rasgar com um sopro
A distância que nos separa
Acordei... devagar...
Mas não abri os olhos
Não queria viajar para fora do sonho
E sentir-me de novo
Como única protagonista
Dum conto que era dos dois
A minha pele tatuada com o teu cheiro
Estremecia a cada memória
Ainda sentia o teu colo
Debaixo do meu rosto
Com toque a lençol de cetim
E os meus pés ainda quentes
Por se terem enrolado nos teus
A minha boca
Guardava o sabor de um beijo
E os meus ouvidos
As tuas palavras meigas
Em sussurros que ainda ecoavam
Como um embalo de mar
Numa manhã de Primavera
Anda...
Fica em mim...
Anda...
Tu chamaste-me e eu fui
Despejei de mim
Tudo o que julgava como certo
E deitei fora todas as pedras
Que afinal podia atirar para longe
Fiquei leve e voei até ti
Num vôo suave
De quem se desprende do chão
E pousei no teu abraço
Anda...
Fica em mim...
Anda...
Quem te disse que o mundo
Vai pesar sobre as nossas costas?
Porque me disseste isso?
Nunca soube...
Mas não me interessa o mundo
Mas tu...
E tu és quem me faz correr
E quem me faz acreditar
Que depois da nuvem mais negra se afastar
Há um sol que brilha
E tu dás-me esse calor
Anda...
Não te escondas
Juntos trilharemos chão de alcatrão
E de terra batida
Juntos descobriremos
Cada canto que as nossas almas gritam
E numa noite de Verão
Ao olharmos o céu
Saberemos que somos apenas
Pó da mesma estrela
Anda...
Não, não foi para mim que a pintei
Não era essa a minha intenção
Apenas peguei nos pincéis e nas tintas
E deixei que as minhas mãos
Fossem guiadas pelo teu toque invisível
À medida que as cores
Se misturavam em tons
Que olhava pela primeira vez
Era o cheiro das tuas emoções
Que delas se desprendiam
Em cada traço que riscava
Sem que para isso precisasse de abrir os olhos
Era a tua voz que ouvia
Em gargalhadas que ecoavam ao meu redor
E as tintas escorriam
Desenhando o teu sorriso rasgado
A profundeza do teu olhar
A forma do teu coração feito de chocolate
Mas não ta consegui dar...
Em cada pedaço de tela
Transportei-te numa viagem só minha
Que não te vou contar
É minha... Pelo menos com ela eu tenho que ficar
E quando tu não estás
E contigo quero estar
Sento-me em frente a ela
Contemplo-a e contigo posso sonhar
Caía sobre a cidade
Lentamente...
Ignorando o sol que antes radiava
Cobrindo cada prédio...
Cada avenida...
Cada estrada...
Descia e não se importava
Se horas depois
Se dissipava e ficava
Esquecida das memórias
Que agora testemunhavam a sua dança
A neblina não se importou
E espalhou o seu cinzento
Escondendo a paisagem
Que momentos antes resplandecia
Eu também não me importei
Eu também deixei a minha marca
Mesmo sabendo que estava apenas de passagem
Que a seguir a eu partir
Viria outro alguém e mudaria tudo o que fizesse
Eu também não me importei
Se depois se iam esquecer de mim
Se me iam apagar com uma esponja
E fazer de conta que nunca por ali passei
Eu não me importei
E gritei quando tive que gritar
Ri quando tive que rir
Chorei quando perdi o chão da minha alma
E apanhei, uma a uma
Todas as folhas secas do Outono
E devolvi ao mar
Cada concha que encontrei na praia
E não me importei se mais folhas
Serviriam de manto ao chão
Se mais conchas iriam cobrir
Os grãos de areia que deixei despidos...
Espera! Espera!
Não vás assim!
Não me deixes apenas o teu rasto...
Dá-me nas minhas mãos a tua essência...
Espera!
Não vês que quando te arrastas para longe
Levas contigo a minha aura
E apagas-lhe a luz?
Procurei-te toda a noite
Segui o cheiro que te enche os poros
Perguntei a cada onda
Pelas tua pegada apagada da areia...
Apanhei algumas pétalas
Que se soltaram do teu cabelo
E que o vento me entregou
Na esperança que te encontrasse
Deixa-me despir-te
Do medo que carregas
Deixa-me pegar-te ao colo
E banhar-te de paz e calor
Envolve-me no teu mundo
Partilha comigo cada segredo
Despeja cada desejo em mim
Faz-me sentir parte de ti...
Espera...
Fica...
Só mais um momento...
Só mais um segundo que dure para sempre...