Mergulho num mar azul
Mas nem por isso me banho de paz
Bronzeio a minha pele
Mas nem por isso aqueço a minha alma
Deito-me na areia molhada
Mas nem por isso o meu coração acalma
Do outro lado
Estás tu…
Que fazes, não sei…
Que pensas, desconheço…
Que tencionas, não imagino…
Escondes-te sempre…
E já não tenho esperança
De decifrar os passos do teu caminho…
E ando em círculos
Em labirintos de emoções
Em sobressaltos silenciosos
Que me consomem
Me tiram força
E me prendem as mãos
Que já não deslizam
No rasto que deixaste
Que outro lado é esse?
Em que dimensão fica?
Também se respira mais rápido
Quando a brisa te traz o cheiro
Que desperta a memória
Para momentos que ficaram presos no teu tempo?
Também se flutua sem destino
Quando um toque de pele
Te eleva mais alto que a lua
E te arrepia de dentro para fora?
Também caminhas de olhos fechados
Quando ao teu lado outros pés
Te acompanham e trilham cada passo
Num compasso perfeito?
Não conheço esse lado…
Parece-me frio…
Revoltado…
Sem entrega…
Sem paixão…
Sem espontaneidade…
Vais ficar sempre desse lado?
Os meus pensamentos
Crescem
Multiplicam-se
Tropeçam-se
Enrolam-se
E enrolam-me…
Como teias
Que me toldam o espírito
Que me sufocam…
E nada consigo vislumbrar…
A intenção com que os teus olhos
Deixam de me ver…
A razão por que os teus braços
Não me esmagam no teu peito…
A frieza com que não me pegas ao colo
E me tiras os pés do chão…
O motivo pelo qual
Trilhamos dois caminhos
Paralelos…
E perco-me por aqui…
Nas bermas desses trilhos…
Na luz que se apaga…
Na minha mão despida da tua…
No suor que me inunda a alma…
Na ausência do som de outros passos…
No silêncio do relógio que parou…
No vazio do eco da minha voz…
Vou parar de correr
Vou deixar de procurar
Quem quiser que me encontre
Quem quiser que me venha buscar...
Vou parar de girar
Sossegar a minha cabeça
Dar paz ao meu espírito
Deixar que a brisa me adormeça...
Vou sentar-me no chão…
E vou esperar…
Vou esperar por aquele lugar
Que hei-de ocupar…
Vou esperar pelo sussurro franco
De um ‘Anda…’
Expirado sem medo…
Acompanhado de um sorriso…
E de um brilho no olhar…
Corri,
Corri sem parar
Corri e procurei
Procurei-te…
Onde estás?
Onde tens estado
Quando tenho frio?
Quando tenho sede
Das tuas mãos?
Quando a minha respiração
Precisa do teu ar?
Quando a minha pele
Implora pelo teu toque?
Corri
Corri sem parar
Corri e procurei
Procurei-te…
Vi-te naquela estrela…
Piscavas a tua luz
Sobre as minhas pegadas
Marcadas nas margens do rio revolto
À beira do mar que me arrasta
Que me molha o cabelo
E me encharca a alma
Afogando-a… Afundando-a…
Corri
Corri sem parar
Corri e procurei
Procurei-te…
Onde estás?
Vejo-te em cada esquina
Sinto-te no sopro do vento
Na folha da árvore que cai ao meu lado
No chão que piso
No céu que é o meu tecto
Corri
Corri sem parar
Corri e procurei
Procurei-te…
E afinal estavas aqui…
A ver-me este tempo todo
A rir-te de mim
A observar-me
A estudar cada gesto
A ler cada movimento meu…
Corri
Corri sem parar
Corri e procurei
Procurei-te…
E tu escondias-te
Acanhado…
Com receio…
Disfarçavas-te de nuvem
E atiravas-me gotas de chuva
Fingias ser a música que oiço
E eu cantava-te sem saber
Que eras tu…
Corri
Corri sem parar
Corri e procurei
Procurei-te…
E acabei por te encontrar…