Não sei porque me debruço sobre o rio
Se tudo o que vejo
É um rosto sem expressão
Que ondula ao sabor das suas correntes
Não sei porque ainda corro
Se depois me tiram o fôlego
E deixo de respirar
Engolindo palavras que me recuso a ouvir
Não sei porque ainda conto as estrelas do céu
Se cada vez são menos
Se se vão apagando e caindo…
Sem se importarem se a minha noite fica mais escura
Não sei porque sopro com vigor
Marcas de terra e de pó
Que mancham a minha janela
Da chuva que já desabou sobre mim
Não sei porque acendo velas
E fico a ver a cera derreter
E me derreto com ela
Como mel quente derramado em pele fria
Não sei porque danço descalça
Ao compasso das ondas que despejam a sua fúria
Numa areia isenta de culpas
Como se com elas compactuasse
Não sei porque sorrio quando me apetece chorar
Misturando lágrimas…
De sabores diferentes…
Que só consegue distinguir quem as prova
E nem sei porque me entrego assim…
Porque me dói assim…
Porque me sinto assim…
Porque choro assim…
Porque me rio de mim…