No escuro da noite
Posso chorar sem ninguém ver
Posso ficar enroscada
No quente da minha cama
Envolta em memórias
Que já não sei se vivi...
Ou se apenas sonhei...
Nunca vais saber
Ninguém o sabe
Só eu...
Eu e a fronha da minha almofada
Que serve de esponja
À água que os meus olhos vertem
E onde afogo as saudades
De curtos instantes
Que me soaram a eterno
E assim adormeço
Embalada pelos soluços
E pelo desassossego do meu coração
Que salta e estremece
Cada vez que oiço o silêncio
Onde me deixaste mergulhada
Os meus braços envolvem-me
E fazem o papel dos teus
Protegem-me e fingem não ser meus
Mas aqueles com que um dia
Me fizeste acreditar
Que me segurariam se perdesse as forças
E caísse...
Mas afinal são os meus
Que se erguem
E não me deixam tombar
São os meus
E não os teus...
Deles apenas me ficou
A sensação breve
Dum abraço forte
De ti
Um espaço vazio
No escuro da noite...